Amar
exige criar um outro pensar
Sempre que a cor da pele for
mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra. (Bob
Marley?)
Pari a Camila, o Cristiano e
o Lucas, filhos de pai negro com esta mãe que tem a cor das águas do rio
Amazonas. Ao olhar para minhas crianças com suas peles negras, pensei: Como
criá-las, protegendo-as de possíveis olhares preconceituosos? Como possibilitar
a essas crianças negras a construção de uma harmonia, capaz de fazê-las crescerem
felizes? Foi então que fiz a minha
escolha, eu iria criá-las com amor e juntos iríamos aprender a conviver com um
mundo de muitas contradições e verdades... Desde então fui aprendendo a
embelezar as senzalas que teimavam em ser para mim um espaço de feiura e
tristeza. Comecei a senti-las, não só como um lugar de lamentos, mas também de danças,
de amor e de aprofundamento da espiritualidade. Guardei as correntes que
prendiam o meu pensamento num cantinho qualquer da alma, aprendi a cultivar
flores ao redor dos quilombos para que se tornassem um lugar bonito de encontro
e de esperança, portanto, sinalizador de outras liberdades. A partir daí seguimos
caminhando mais livres, sem argolas em nossos pés e sem rancor na alma.
Não nego que foi um aprendizado
dolorido, porque também eu tive que educar os opressores que habitavam e ainda
habitam dentro de mim. Fui aprendendo a olhar para meus filhos e minha filha
sem destacar a cor de suas peles, mas ver o amor se fortalecendo nos seus passos
e tropeços.
Contudo, nunca os fiz
negarem sua cor. Eles foram criados sabendo serem pessoas negras, sabendo serem
pessoas generosas, estudiosas, gente cheia de amor no coração e nas ações.
Hoje compreendo que somos pessoas
diferentes. Respeito a diversidade no ser humano, mas essa diversidade precisa
caminhar para a unicidade, para o encontro
e para a compartilha da beleza de sermos folhas da mesma árvore.
Portanto, não deixemos que a
cor de nossas peles continue a nos separar. Prometo refazer o meu pensar, criar
outros sentimentos, como, a ternura e o acolhimento, para carinhosamente te
abraçar... Como canta o Taiguara, “ Hoje a minha pele já não tem cor, vivo a
minha vida seja onde for”. (Deusa)
