30 de junho de 2015

Escola analógica

Escola analógica
Esta semana iniciei, com meus alunos do nono ano, os trabalhos de leitura. Durante o semestre, eles são orientados a ler dois romances. Atividades quase impossível para meninos e meninas  habituados a  outro gênero textual. Enquanto explicava como seria a dinâmica do trabalho com os romances, fui interpelado por um aluno, que parecia ser o porta voz da turma, com a seguinte pergunta: “Professor, eu posso assistir a um filme com o mesmo título do romance? – ele se referia a um desse romances adaptados ao cinema: Romeu e Julieta, O Senhor dos Anéis, Crepúsculo, Lua Nova, dentre outros. 
De imediato e automaticamente, meio que conduzido pelo aprendizado acadêmico, muitas vezes dissociados do mundo real e sem coragem de se  contrapor às regras desatualizadas do ensino, respondi: Não! Não é a mesma coisa!!! O livro é melhor e contém  detalhes que vocês jamais perceberão no filme. 

Com essa resposta seguida de uma série de argumentos, vi a turma murchar diante da empreitada a que era  submetida. Claro que há exceções e alguns alunos preferiram ler mesmo um livro.

Já em casa, avaliando meu trabalho diário e semanal, comecei a pensar naquela situação ocorrida em sala de aula. 

Aquele garoto, com seu jeito particular de ser, me disse que é preciso acompanhar a evolução das coisas. Com cuidado, mas é preciso acompanhar.

Associei isso às inúmeras técnicas e recurso didáticos e pedagógicos que podem ser usados na educação e nós nos recusamos a utilizar pelo simples fato de não termos sido educados com estes recursos. Fiquei pensando na pergunta daquele aluno.

Há quinze anos tive contato, em Belém, com o quadro digital. Fiquei impressionado e falei isso na escola que trabalhava: fui ridicularizado.
Também pudera, ainda estávamos na era do cuspo e giz. Mas hoje, em pleno século vinte e um, tempos modernos dos celulares minúsculos (ou maiúsculos - o bonito é relativo e o moderno é cópia do passado), da TV digital, da internet, e de tantas outras modernidades para facilitar a vida do homem, ainda damos respostas como a que dei ao meu aluno e carregadas de argumentos.
Ora!! Se um dos objetivos da escola é informar, temos que facilitar a chegada dessas informações aos nossos meninos. Digo isso, porque não mais me admitirei, diante de tantas tecnologias, que podem facilitar o acesso de meus alunos às boas leituras, insistir que eles leiam como meus avós, meus pais e como eu mesmo fui introduzido na leitura.
Leitura não é exatamente a decodificação de um texto impresso nos livros didáticos ou em outro tipo de papel. A leitura vai muito além disso. Ler é o poder de compreensão que um cidadão pode ter, da rua onde mora, de seu bairro, de sua cidade, da situação política de seu país e de sua participação para o bem ou para o mal, em sua sociedade.
Há muito tempo, a leitura era feita em textos extraídos das paredes das cavernas, depois do papiro e foi evoluindo até chegar ao papel. Neste caso temos uma prova da evolução da escrita e consequentemente da leitura.
Assim, sinto-me envergonhado pela resposta que dei ao meu aluno. Se quero que meu aluno tenha contato com outros textos que não sejam as besteiras impressas em letras medíocre de algumas músicas, dos reality shows da vida, dos programas de auditórios do domingo e das receitas de comida, que a televisão os apresenta todas as manhãs, preciso lançar mão dos recursos que chamem atenção dos alunos e, que certamente, facilitarão o entrosamento entre o educando e a obra.
Diante de tanta ferramenta tecnológica, insistimos nas antigas ferramentas menos atraentes e que só distanciam os alunos das grandes obras. É verdade que o filme não contém todos os detalhes  da obra escrita, mas não foge da essência. 
Hoje, quando a escola sofre um verdadeiro bombardeio de influências negativas, ficamos entrincheirados, como dizia meu irmão Joel: “fazendo guerra de baladeira” e virando as costas para armas mais modernas e eficientes. A escola não pode se encolher ou se recusar a usar o que puder de mecanismos modernos para atrair seus alunos e levá-los ao contato dos mais variados tipos de leitura. Como disse anteriormente, a leitura não está apenas nos livros e não deve ser confundida com descodificação de signos gráficos.
Se o aluno terá contato com a história, se ele ficará informado assistindo a um filme na TV , no cinema ou em seu aparelho e DVD, por que não aceitar que ele busque sua própria forma de ler; por que não permitir que ele faça a leitura da forma que  lhe pareça mais agradável.
Penso, que se não se perde a essência, devemos mais que indicar a obra, incentivá-los a buscar o melhor recurso para que, de uma forma ou de outra, esses meninos tenham conhecimentos de nossas obras literárias. Temos que fazer da tecnologia uma aliada e não uma adversária. Pois se optarmos por fazê-la adversária, na certa sairemos derrotados: Não dá pra ganhar do mundo que tem quase tudo digital, armados de quadro e pincel (nossas mais modernas armas). É muito difícil ganharmos uma luta no mundo digital, munidos de armas totalmente analógicas.


Macapá, 05 de março de 2011 


Autor: Prof. Lobão  

Postado por Jadiel Jackson

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Sameera Chathuranga Postado Por Jadiel Jackson

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